Caro amigo,
Eu estava pensando em você hoje e queria fazer algo para animá-lo. Foi então que meus pensamentos me levaram pelo passado ao primeiro Natal. Mas a imagem que se formou na minha mente não foi a tradicional cena retratada nos presépios, de Maria bela, serena e bem trajada, adorando o Menino Jesus envolto em uma impecável manta de linho branco dentro de uma manjedoura que mais parece uma bela peça de mobiliário do que um cocho no qual se alimenta o gado. E nem pensei no burrinho elegantemente preparado para a ocasião, ao lado de um José alto, forte e com ar resoluto. Não… A imagem que me ocorreu foi mais próxima daquilo que de fato aconteceu.
Quão difícil deve ter sido para Maria viajar de Nazaré a Belém, às vésperas de dar à luz. A Bíblia não especifica que Jesus nasceu na mesma noite em que ela e José chegaram a Belém, mas cem quilômetros a pé ou no lombo de um burro certamente teria sido o bastante para provocar o nascimento da criança. Se sob condições agradáveis não é fácil lidar com as contrações que antecedem o momento do nascimento de um filho, imagine começar um trabalho de parto durante uma longa viagem em uma estrada de terra. Sem dúvida, um teste e tanto. Quase que dá para ouvir José repetindo ao longo do caminho, “Aguente mais um pouco”.
Mas é possível também que ele estivesse no limite, cansado e tomado por dúvidas. Será que ele não poderia ter pensado em uma maneira melhor de viajar, ou ter partido antes? Talvez o carpinteiro sentiu-se tentado a se desesperar quando, ao chegarem a Belém, descobriram que a hospedaria estava lotada. Será que ele não poderia ter provido um lugar mais adequado que uma estrebaria para Maria ter o bebê?
Provavelmente, em algum momento, tanto Maria quanto José temeram falhar na tão importante missão que lhes fora confiada: trazer para este mundo perdido nas trevas o portador do amor de Deus.
Mas imaginem também a alegria que devem ter sentido quando tomaram o recém-nascido nos braços e olharam nos Seus olhos cheios de amor! É um momento precioso para todos os pais e uma das experiências mais gratificantes da vida, a qual deve ter sido ainda mais especial para aqueles dois, pois o neném reluzia com o amor de Deus como nenhum outro. Pelo que se lê nos relatos, as outras poucas pessoas que O viram na noite do Seu nascimento tiveram a sensação, ainda que parecesse estranha, de que Ele seria a luz que as guiaria e que cumpriria a promessa de Deus de salvação.
Mas a noite do nascimento de Jesus também foi o início de uma vida de tribulações, perigos, dores e sofrimento para Ele e Sua família. Uma vitória final gloriosa O aguardava na Sua ressurreição, mas somente depois de uma batalha nada fácil.
Muito do que estava para acontecer dependia de Maria e José que, apesar de chamados para serem os pais terrenos de Jesus, eram pessoas normais, de carne e osso, como você e eu. Eles certamente passaram por momentos muito difíceis! Em comparação com tudo isso, minhas próprias provações e tribulações, por mais gigantescas e avassaladoras que me pareçam, são administráveis.
É natural sentir-se desanimado e sem esperança quando as circunstâncias parecem difíceis demais e achamos que ninguém se importa conosco. Passo por isso às vezes, e ao pensar em tudo que você deve ter vivenciado este ano, querido amigo, imagino que o mesmo deve acontecer com você. Mas quero animá-lo a seguir em frente e, apesar de todas as adversidades, a “combater o bom combate da fé”1 — como diz na Bíblia — , na certeza de que nada pode separá-lo do amor de Deus2 e que você não está sozinho nas batalhas da vida.
Fique firme, amigo, pois um dia destes celebraremos juntos a vitória: você, eu, Maria, José, Jesus e muito mais gente. Por quê? Porque pela graça de Deus não desistimos. Continuamos acreditando. Perseveramos e amamos até o fim.
Lily Sridhar é membro da Família Internacional na Índia.