Nas Filipinas, O Natal é uma celebração que engloba tudo: reuniões de família, comemoração do nascimento de Cristo, celebração ao amor.
Junte isso a comidas deliciosas, festas sem fim e tudo muito enfeitado de dezembro a fevereiro e o que você tem é um Natal bem feliz. Mas, faz alguns anos, a época não me trazia as melhores sensações. Talvez o fato de estar com 20 anos de idade e sem namorado influenciava. Eu queria um amor diferente naquele Natal, uma pessoa com quem dividir a data, alguém a quem amar.
Mas não aconteceu. Pelo contrário, foi um período muito difícil, com um monte de conflitos e problemas pessoais. Apesar de estar nas proximidades do equador, meu coração estava gelado.
Para meus pais, voluntários cristãos em tempo integral, o Natal também era sinônimo de trabalho voluntário. Naquele dezembro, meus amigos e eu já havíamos visitado duas penitenciárias e alguns orfanatos, o hospital principal da cidade e uma favela.
No dia 24, a primeira visita foi a um lar de idosos. Eu não tinha a mínima vontade de ir, mas como já assumira o compromisso, vesti às pressas uma camiseta, calça de training, tênis e um boné de beisebol (para esconder um pouco os meus olhos e ninguém perceber como eu estava deprimida).
Durante o culto religioso no asilo fiquei sentada num banco no fundo da capela, mal prestando atenção enquanto o pastor explicava que mais tarde os voluntários da nossa organização apresentariam uma dança, durante a festinha que estava programada.
Alguns idosos sentados perto de mim olharam e sorriram.
— E você, rapazinho, também vai dançar? — perguntou-me uma senhora com a vozinha trêmula enquanto eu me virava para ver quem era. Será que ela está falando comigo mesmo?
O velhinho ao lado dela achou a maior graça e, dando um tapa no próprio joelho, disse rindo:
— É uma mocinha!
Uma hora mais tarde, depois de me condicionar a entrar em “ritmo de apresentação”, eu estava ali dançando e cantando. Durante meia hora apresentamos canções de Natal tradicionais e algumas originais. Depois foi a vez da audiência participar. Fizemos jogos com os velhinhos e tivemos uma competição de dança. Foi muito divertido ver todos no salão, ainda com um espírito jovial, dançando aos ritmos da música da sua época — swing, boogie, tcha-tcha-tcha, e outros.
“Obrigada pela visita!” — disse a mesma senhora que pensara que eu fosse um rapaz .“E Feliz Natal!” — concluiu, fazendo um carinho na minha mão.
Olhando em seus olhos, vi refletida a solidão que eu sentia.
No dia seguinte, Kelly, uma de minhas melhores e mais malucas amigas, ligou chorando. Ela tentara reatar com o namorado na noite anterior, mas não dera certo. Que decepção, ser rejeitada exatamente na véspera de Natal! Há muito tempo eu não ouvia uma história tão triste. Tentei lhe oferecer consolo, mas me sentia impotente, devido minhas próprias desilusões. O que eu poderia lhe dizer? Oramos juntas ao telefone pedindo ao Senhor que cuidasse dos desejos de nossos corações.
Ao ouvir Kelly agradecer a Deus apesar de estar tão triste, senti vergonha do meu egoísmo. Talvez o verdadeiro amor do Natal estivesse presente como sempre, eu é que não o havia notado. Será que esse espírito de amor tinha passado despercebido? Eu queria tanto alguém para me fazer feliz e me amar, mas encontrei muita gente precisando de algo verdadeiro, pessoas realmente solitárias, humildes, menosprezadas, esquecidas e desprezadas. Foi quando despertei para o fato de que o amor de Deus é justamente para isso!
Ele ama os desprezados, entra num mundo de decepções e transmite esperança aos Seus filhos.
Naquele dezembro, aprendi que o espírito de Natal está vivo para todos e que só não o percebe quem, como eu, procura no lugar errado. Algumas pessoas, porém, buscam no lugar certo, com o coração aberto, e encontram esse tesouro.
José e Maria estavam procurando uma boa estalagem e conseguiram um estábulo.
Os Reis Magos imaginavam que chegariam a um palácio, mas foram bater na morada simples de um carpinteiro.
Os anjos estavam atrás de alguém para divulgar a notícia do nascimento do Salvador e encontraram humildes pastores.
Deus queria uma pessoa a quem dar o amor do Céu e, porque procurou no lugar certo, encontrou você.
Espero que desta vez nós também busquemos no lugar certo e achemos os que precisam do amor de Deus. E que cada ano, todos nós encontremos o Natal.