Deus possui um modo de ser diferente dos de todos os outros seres. Só Ele é infinito e não criado. Os demais são finitos e criados[1]. Por conseguinte Ele é diferente de todas as coisas criadas. É o que se chama na teologia de transcendência de Deus, o que significa que Ele existe à parte do universo material e não está sujeito às limitações deste. Transcendência quer dizer que o Seu ser é de melhor qualidade que o nosso, que é o que se espera de um criador, em relação à Sua criação.[2] O termo bíblico para essa diferença —a “alteridade” de Deus— é santo.
O significado da santidade
A palavra hebraica Qodesh traduzida como “santo” e todas as palavras da mesma família linguística, sugerem separação, santidade, apartação, pureza. Dizer que Deus é santo quer dizer que Ele é separado, distinto e “totalmente outro” em relação a todo o resto.
A santidade de Deus, em relação ao Seu ser essencial representa tudo em Deus que O torna diferente e maior do que nós. Ela representa a divindade de Deus. A santidade de Deus é a diferença essencial entre Ele e o homem. Somente Deus é Deus, não há ninguém como Ele. É sagrado. Deus é o Criador; o homem, a criatura. É superior ao homem em todos os sentidos. É divino.
A santidade é também vista como um atributo moral de Deus. Do ponto de vista moral, Deus é perfeito, o que também o distingue completamente do homem, que é pecador. A exemplo de vários dos outros Seus atributos, a santidade, apesar de O separar essencial e moralmente da humanidade, é uma qualidade da qual podemos partilhar em um pequeno grau. Qualquer santidade que podemos ter, tanto em função de sermos separados por Deus e consagrados a Ele, ou no nosso comportamento moral, é apenas uma pálida sombra da santidade de Deus, infinitamente superior à nossa. A diferença é que enquanto podemos realizar atos santos, Deus é santidade.
A santidade de Deus denota Sua majestade suprema, Sua grandiosidade, que Ele é extremamente exaltado sobre todas as criaturas. Na visão que Isaías teve de Deus, descrita no sexto capítulo do seu livro, o profeta falou sobre a santidade de Deus:
Eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as orlas do Seu manto enchiam o templo. Os serafins estavam acima dEle, cada um tinha seis asas: Com duas cobriam os Seus rosto, com duas cobriam os Seus pés e com duas voavam. E clamavam uns aos outros, dizendo: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da Sua glória!”—Isaías 6:1–3
Você provavelmente observou que nesse versículo é dito que é “santo, santo, santo”. O ministro cristão e professor Timothy Keller explica que, no hebraico do Antigo Testamento, a magnitude é expressa pela repetição da palavra.
Aqui, Deus é retratado como tão santo que o adjetivo é dito três vezes. Deus não é só “santo” nem “santo santo”. Ele é “santo santo santo”. Ele está em uma categoria superior a todas as demais.[3]
A incomparável natureza de Deus
A santidade de Deus é infinitamente santa. É a santidade em mais alto grau. É superlativa. Não há outra santidade como a dEle. Isso não só é verdade com respeito à Santidade de Deus, mas sobre todos os Seus atributos. O amor de Deus é o amor do mais alto grau. Sua sabedoria, conhecimento, poder e todas as qualidades de Deus são superlativas. Não há nada que se compare a Ele. Enquanto nós, seres humanos, podemos ter um pouco de algumas dessas qualidades, pois somos feitos à Sua imagem, nossos atributos jamais poderão se comparar à magnitude ou à infinidade das qualidades de Deus. Ele é amor puro, poder puro. Só Ele é santo, santo, santo.
“Não há santo como é o Senhor; não há outro além de Ti; rocha nenhuma há como o nosso Deus.”—1 Samuel 2:2
Além de a essência e o ser de Deus serem (ontologicamente) “inteiramente outros”, Ele também é separado e distinto em sua natureza ética e moral. A retidão de Deus transcende tudo que Ele criou. Ele é moralmente perfeito em Seu caráter e em Suas ações. É puro e justo, isento de desejos, motivações, pensamentos, palavras ou atos errados. É eterna e imutavelmente santo.[4] Possui pureza divina sem nenhum sinal de impureza e, dessa forma, está separado do pecado da humanidade.
No Antigo Testamento, os israelitas, tanto os sacerdotes quanto o povo, foram instruídos a seguir muitos ritos e cerimônias de purificação. Qualquer coisa que contaminasse a pessoa, tornando-a impura ou imunda, externa ou internamente, os impedia de se aproximar de Deus e Sua morada, o tabernáculo ou templo. Por isso, Deus lhes disse para realizar essas cerimônias de purificação, como uma demonstração de que o Santo estava separado de tudo o que não é santo.
Como Deus é pura santidade em si, está separado de todo o mal moral, do pecado, e não pode ter comunhão com o pecado. É uma ofensa à Sua própria natureza. Na Bíblia diz: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a opressão não podes contemplar.”[5] “Tu não és um Deus que tenha prazer na iniquidade; nem Contigo habitará o mal.”[6]
Por causa da santidade que Lhe é inerente, Deus não tolera o pecado, ainda que todos os humanos pequem. No entanto, como Deus também é extremamente amoroso e misericordioso, criou o plano de redenção que exigia a encarnação de Jesus, Sua vida sem pecado, e Sua morte na cruz pelos pecados da humanidade, elementos satisfazem à retidão e à justiça de Deus e que trazem a reconciliação entre Deus e aqueles que recebem Jesus. Deus fez isso por amor a nós, Sua criação.
“Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”—João 3:16
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Notas de rodapé
[1] Jack Cottrell, What the Bible Says About God the Creator (Eugene: Wipf and Stock Publishers, 1996), 211.
[2] J. I. Packer, Attributes of God, part 2. Lecture 11, Transcendence and Character.
[3] Timothy Keller, “The Gospel and Your Self,” Redeemer Presbyterian Church, 2005.
[4] Gordon R. Lewis and Bruce A. Demarest, Integrative Theology, Book 1 (Grand Rapids: Zondervan, 1996), 233.
[5] Habacuque 1:13 NVI.
[6] Salmo 5:4 NAU.