Segundo o plano de Deus para a salvação, a humanidade de Jesus é tão importante quanto a Sua divindade, porque nossa salvação depende de Ele ser totalmente Deus e totalmente homem.
A salvação é possível porque Ele é uma das pessoas da Trindade —o Deus Filho. Somente alguém que é Deus pode suportar o peso dos pecados do mundo. Somente aquele que é eternamente Deus pode oferecer um sacrifício de valor infinito e prestar obediência perfeita à lei de Deus, suportar Sua ira para a redenção e libertar os outros do julgamento da Lei.[1]
Da mesma forma, somente alguém de natureza humana pode tornar a salvação possível. Como o primeiro homem, Adão, pecou e trouxe a condenação para todos os humanos, foi necessário que outro humano suportasse a punição e recebesse o julgamento de Deus sobre si próprio, pois somente um ser humano pode, vicariamente representar a raça humana.
De fato, Cristo ressurgiu dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que dormem. Pois assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem. Pois assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo.[2]
Foi, portanto, necessário que Jesus, encarnasse, assumindo plenamente a natureza humana, para ser, ao mesmo tempo completamente Deus e completamente homem, para que a salvação se tornasse possível.
Muitas vezes, as pessoas atentam à divindade de Jesus e colocam Sua humanidade em segundo plano. Todavia, ao mesmo tempo em que Ele era Deus vivendo na Terra em forma humana, era também tão humano quanto qualquer um de nós. Tinha as mesmas necessidades e fraquezas física que as nossas. Possuía as limitações físicas e mentais que temos, as mesmas emoções, era igualmente tentado a pecar e passava por sofrimentos espirituais internos, tal como acontece conosco. Ele era homem. Nasceu, viveu e morreu como qualquer outro homem. Tinha a natureza humana, o que significa que possuía um corpo material e uma alma racional, ou seja, mente.
Vejamos os versículos que mostram a humanidade de Jesus.
Elementos humanos —corpo físico e alma racional
Jesus possuía os dois principais elementos da natureza humana —um corpo físico e uma alma racional. Falou do Seu corpo e de Sua alma/espírito (em determinadas situações as palavras alma e espírito são usadas alternadamente com o mesmo sentido). Ele ensinou sobre Sua carne e ossos. O Livro de Hebreus diz que Jesus era de carne e osso. Em outros versículos, Ele afrirma ter uma alma ou um espírito.
“Vede as Minhas mãos e os Meus pés. Sou Eu mesmo! Apalpai-Me e vede; um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que Eu tenho.”[3] Então lhes disse: “A Minha alma está cheia de tristeza até a morte. Ficai aqui e velai comigo.”[4]
Nestes versículos vemos que Jesus tinha os elementos necessários para ser humano. Ele disse ser um homem e outras pessoas atestaram o mesmo:
Procurais matar-Me, homem que vos disse a verdade que de Deus ouviu.[5] “Homens israelitas, escutai estas palavras: A Jesus de Nazaré, homem aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por Ele fez no meio de vós […]”[6] Pois assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem.[7]
Como acontece a todos os humanos, Jesus estava sujeito às leis naturais que regem o crescimento e o desenvolvimento físico do homem. Nasceu e passou da infância para a fase adulta. Experimentou o processo de aprendizagem normal como qualquer criança. Cresceu em conhecimento, entendimento, sabedoria e responsabilidade como acontece a qualquer outro humano, na medida em que avança a idade. Fortaleceu-se espiritualmente com o tempo, muito provavelmente pelas lições que aprendeu, tais como as que diziam respeito à obediência aos Seus pais, pelo sofrimento e outras vivências. Apesar de não haver registro nas Escrituras de que Ele tenha se enfermado, faz sentido supor que Ele tenha adoecido às vezes.
Necessidades, fraquezas e emoções humanas
Jesus tinha as mesmas fraquezas e necessidades físicas que os outros humanos. Ficou com fome, com sede e cansado. Seu corpo também se enfraquecia e ficava exausto. Certa vez, ficou tão cansado que dormiu profundamente em um pesqueiro sob forte tempestade.
Depois de jejuar por quarenta dias e quarenta noites, teve fome.[8] Estava ali a fonte de Jacó, e Jesus, cansado da viagem, assentou-se junto à fonte. Era quase a hora sexta. indo uma mulher samaritana tirar água, Jesus lhe disse: “Dá-Me de beber”.[9] De repente levantou-se no mar uma grande tempestade, de sorte que o barco era varrido pelas ondas. Ele, porém, estava dormindo.[10]
Jesus sentiu emoções, como nós. Teve compaixão das pessoas e pena dos necessitados. Chorou, maravilhou-se, emocionou-se profundamente e se entristeceu. Orou cheio de fervor, angustiou-se e experimentou agonia psicológica. Às vezes, atribulou-se —sofrimento que no texto original grego é expresso pelo termo tarrasso, que significa ansioso ou surpreendido pelo perigo. Ele tinha amigos e os amava.
Vendo Ele as multidões, tinha grande compaixão delas, porque andavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor.[11] Jesus, vendo-a chorar, e também chorando os judeus que com ela vinham, comoveu-se profundamente em espírito, e perturbou-se.[12] Jesus chorou.[13]
Tendo Jesus dito isso, perturbou-se em espírito, e afirmou: “Em verdade, em verdade vos digo que um de vós Me trairá.”[14]
Jesus amava a Marta, a sua irmã e a Lázaro.[15]
Como todos os seres humanos, Jesus morreu. Seu corpo deixou de ter vida.
Quando Jesus recebeu o vinagre, disse: “Está consumado!” E inclinando a cabeça, entregou o espírito.[16] Jesus clamou com grande voz: “Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito.” Havendo dito isto, expirou.[17]
Aparentemente, as pessoas com quem Jesus cresceu e com quem conviveu até o início do Seu ministério se tornar público O consideravam um humano normal. Isso se pode deduzir pela reação que tiveram quando Ele começou Sua obra. Depois de haver operado milagres e pregado na Galileia e já contar com multidões de seguidores, visitou Nazaré, Sua cidade natal, onde foi rejeitado por Seus antigos vizinhos e conterrâneos.[18]
Até mesmo Seus irmãos não acreditavam nEle, apesar de alguns, posteriormente, se tornarem conhecidos como crentes e líderes da igreja, tais como Tiago, Judas e, possivelmente, outros. Pois até os Seus irmãos não criam nEle.[19]
Se aqueles que moraram ou conviveram com Ele questionavam a origem da sabedoria e conhecimento que Lhe permitia falar e pregar com tanta autoridade e estavam surpresos, é óbvio que O viam como uma pessoa normal, não como Deus ou mesmo um grande mestre —apenas um homem comum.
Martinho Lutero expressou a realidade da humanidade plena de Jesus da seguinte forma: “Ele comia, bebia, dormia e acordava. Também ficou cansado, alegre, chorou, riu, sentiu fome, sede e frio. Ele suava, caminhava, trabalhava e orava.”
Jesus era totalmente humano. Vivenciou a vida como nós, com as mesmas forças e fraquezas físicas e mentais. Era humano em todos os sentidos, exceto o pecado. Esta é a única diferença: Jesus jamais pecou. Nunca.
Jesus não pecou, mas foi tentado
Os seguintes versículos falam da natureza isenta de pecado de Jesus.
Aquele que não conheceu pecado, Ele O fez pecado por nós, para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus.[20] Ele não cometeu pecado, nem na Sua boca se achou engano.[21] Bem sabeis que Ele se manifestou para tirar os nossos pecados. E nEle não há pecado.[22]
Como Jesus não pecou, não precisava morrer pelos próprios pecados, mas podia morrer pelos pecados da humanidade.
Mas Jesus poderia pecar? Segundo as Escrituras, parece que não. Se as analisarmos, veremos que: 1) Jesus não pecou —conforme mostram os versículos acima. 2) Como foi tentado de todas as formas, sabemos que foi verdadeiramente tentado a pecar, como todos nós.[23] 3) Jesus é Deus, e Deus não pode ser tentado com o mal. [24]
Se a natureza humana de Jesus existisse independentemente da Sua natureza divina, então Ele teria sido similar a Adão e Eva quando foram criados. Em outras palavras, estaria isento de pecado, mas, teoricamente, seria capaz de pecar. Entretanto, a natureza humana de Jesus jamais existiu à parte da Sua natureza divina. As duas co-existiam em uma pessoa. Um ato de pecado teria uma natureza moral, que envolveria toda a pessoa do Cristo, ou seja, Suas naturezas divina e humana. Se isso tivesse acontecido, então a natureza divina de Jesus teria pecado, o que significaria que Deus teria pecado e, portanto, não seria Deus. Isso não é possível, pois Ele teria contrariado Sua própria natureza, o que não faz. Dessa forma, podemos concluir que a união das naturezas humana e divina de Jesus em uma só pessoa O impedia de pecar. Entretanto, como isso acontecia, não sabemos. É um dos mistérios inerentes ao cristianismo, pois Jesus é o único que já teve as duas naturezas —a de Deus e a do homem. Portanto, não surpreende que nos seja difícil, ou até impossível, entender como coisas assim se processavam nEle.
Ele era humano e sujeito a todas as tentações que encontramos, na mesma intensidade que as sofremos. Apesar de não entendermos como alguém pode ser tentado e, ao mesmo tempo, incapaz de pecar, segundo as Escrituras, Jesus foi genuinamente tentado, sem jamais ceder às tentações.
Ele foi completamente tentado em todas as coisas, como nós somos. Entretanto, invariavelmente, resistiu à tentação e, em consequência, não pecou. Teve de vencer cada tentação para resistir ao pecado. O apelo do pecado que Ele vivenciou foi igual ao que experimentamos. A diferença é que Jesus não cedeu à tentação e, por conseguinte, não pecou.
A Bíblia diz que Jesus “aprendeu obediência pelo aquilo que padeceu” e o versículo anterior a esse fala de Ele haver orado com grande clamor e lágrimas.
O qual, nos dias da Sua carne, tendo oferecido, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da morte, e tendo sido ouvido por causa da Sua piedade, embora sendo Filho, aprendeu a obediência por meio daquilo que sofreu e, tendo Ele sido aperfeiçoado, veio a ser o autor da eterna salvação para todos os que Lhe obedecem.[25]
No Jardim de Getsêmani, pouco antes de ser preso para depois ser torturado e crucificado, Jesus estava obviamente angustiado ao decidir fazer a vontade de Seu Pai, tendo resistido à tentação de não “beber do cálice”. Ele agonizava em oração.
Jesus foi seriamente tentado. Aprendeu a obediência. Orou desesperadamente para fazer a vontade do Seu Pai. Não se valeu na Sua natureza divina para que fosse mais fácil obedecer, mas teve de lutar com os recursos da Sua natureza humana ao enfrentar e superar todas as tentações.
Quando pensamos que o Deus Filho escolheu se humilhar ao assumir a natureza humana, a carne humana, e tudo que significa ser humano para que cada um de nós pudesse ter a oportunidade de ser perdoado de nossos pecados e viver para sempre, é inevitável amá-lo e Lhe agradecer por isso. Deu Sua vida por nós. Não apenas Sua vida física humana, mas também Sua vida celeste, pois teve de abrir mão dela para viver aqueles anos na Terra, como um homem.
Se pudéssemos estabelecer uma comparação, seria como se uma pessoa concordasse nascer como minhoca e viver como uma minhoca por vários anos. Imagine a humilhação que seria e como seria difícil saber que, apesar de ser gente, vivia como um verme. Esse é um pensamento que pode nos dar uma nova visão do Seu amor por nós.
Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a Sua vida por nós.[26] Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em que Deus enviou o Seu Filho unigênito ao mundo, para que por meio dEle vivamos.[27]
Jesus viveu sem pecado. Ele era santo em tudo que pensava, fazia e sentia. Sempre agia em perfeito amor para com Deus e os homens. Ele sempre procurou fazer a vontade de Seu Pai e teve êxito. Como Ele conseguiu fazer isso é um mistério de fé, mas as Escrituras nos dizem que assim foi.
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Notas de rodapé
[1] Louis Berkhof, Teologia Sistemática, Editora Cultura Cristã), 319.
[2] 1 Coríntios 15:20–22. (A menos que de outra forma indicada, todas as referências às Escrituras foram extraídas a “Bíblia Sagrada” — tradução de João Ferreira de Almeida — Edição Contemporânea, Copyright © 1990, por Editora Vida, com uso autorizado. Todos os direitos reservados.)
[3] Lucas 24:39.
[4] Mateus 26:38.
[5] João 8:40.
[6] Atos 2:22.
[7] 1 Coríntios 15:21.
[8] Mateus 4:2.
[9] João 4:6–7.
[10] Mateus 8:24.
[11] Mateus 9:36.
[12] João 11:33.
[13] João 11:35.
[14] João 13:21.
[15] João 11:5.
[16] João 19:30.
[17] Lucas 23:46.
[18] Mateus 13:53–58.
[19] João 7:5.
[20] 2 Coríntios 5:21.
[21] 1 Pedro 2:22.
[22] 1 João 3:5.
[23] Hebreus 4:15.
[24] Tiago 1:13.
[25] Hebreus 5:7–9.
[26] 1 João 3:16.
[27] 1 João 4:9.