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O Elo perdido

Joanna
Rússia

Fui criada na Rússia durante o regime comunista, quando tudo e todos estavam sob a rígida vigilância da KGB e as poucas pessoas que acreditavam em Deus e em Jesus mantinham sua fé em segredo. Como meu pai trabalhava para o governo, nossa família recebia uma monitoração ainda mais rigorosa. Ninguém falava sobre fé nem da existência de Deus.

Religião era um conto da carochinha para os fracos. Na escola nos ensinavam que “Iuri Gagarin [o cosmonauta soviético que foi o primeiro tripulante humano em uma viagem espacial] esteve no espaço e não viu a Deus porque Ele não existe”.

A única coisa “sagrada”, que todos respeitavam e temiam era o Partido Comunista. Aos nove anos, tive a honra de ser a primeira da minha classe a ingressar nos “Jovens Pioneiros”, organização comunista para jovens. Fiz o juramento tradicional, declarando-me atéia e determinada a defender os ensinamentos do Vovô Lenin.

Meus dias eram preenchidos com estudos de física, astronomia e tinha diante de mim o próspero futuro prometido pelo meu amado governo: uma ótima educação e muitos anos de trabalho em um laboratório de ciências, tudo para o bem da Mãe Rússia. — Eu não precisava de Deus para viver.

Até o dia em que as minhas crenças comunistas foram abaladas. Minha família se preparava para visitar uns amigos em Zelenogorsk, uma pequena cidade não muito longe de São Petersburgo (na época, Leningrado), onde morávamos, mas minha mãe não quis ir. “Sonhei que se formos agora, sofreremos um acidente do qual talvez não sobrevivamos. Vi um caminhão despejar uma carga de blocos de concreto no nosso carro quando paramos no semáforo” — ela disse.

Na época, os caminhoneiros russos eram notórios pela sua imprudência com as cargas. Afinal, não importava como desempenhassem sua tarefa, o salário que recebiam do governo não mudava. Sendo assim, não era raro ver cargas espalhadas pela estrada.

Meu pai se recusou a dar ouvidos àquelas “superstições de mulher” e lá fomos nós. Na metade do caminho para Zelenogorsk ficamos presos num congestionamento. Meu pai procurou um desvio e, tão logo fizemos uma curva, o sinal fechou para nós e paramos, justamente atrás de um caminhão carregado com blocos de concreto.

Fomos invadidos por um sentimento sinistro. Meu pai, lívido, pálido, tentou sair de detrás do caminhão, mas com tantos carros atrás de nós não havia espaço para manobrar. Depois do que nos pareceu uma eternidade, conseguimos sair dali e vimos então o sonho de minha mãe se cumprir.

A tábua que segurava os blocos de concreto quebrou com o peso e, estarrecidos, vimos o carro que tomou o nosso lugar ser esmagado sob os blocos que caíram do caminhão. Tremíamos, mas estávamos salvos e nunca esquecemos o que aconteceu naquele dia!

Procurei em vão uma explicação lógica e plausível para o sonho profético de minha mãe, mas não a encontrei. Havia apenas uma explicação, mas não parecia nem plausível nem lógica: Deus lhe dera um vislumbre do futuro para poupar a nossa vida.

Na noite seguinte fiz algo muito atípico para mim: orei. “Deus, se Você realmente existe e evitou nossa morte naquele acidente, mostre-me mais uma vez que Se importa comigo. Envie alguém para me falar a Seu respeito. Se isso acontecer, acreditarei”.

Alguns minutos depois saí para a rua escura, com a cabeça fervilhando de perguntas. “Será que Deus fez um milagre para salvar minha vida? E, se fez, por quê? Será que atenderia à minha oração e me daria outro sinal?” Só de pensar no que poderia acontecer a seguir me arrepiava.

Eu tinha dado uns dez passos quando alguém me entregou um lindo pôster que dizia: “Deus é amor e Ele te ama!” Fiquei chocada.

— Por que você está me dando isto? — perguntei àquela estranha.

— Porque Deus me mandou. Ele quer estar presente na sua vida.

Não me lembro o que mais me foi dito, mas acabei orando com ela para receber Jesus como Salvador, e combinamos que dali a dois dias eu iria à sua casa para um estudo bíblico que ela ministrava a um pequeno grupo de novos cristãos.

Depois de dois meses, aos 17 anos de idade, decidi ser missionária. No início meus pais não me levaram muito a sério, mas quando eu estava arrumando as minhas coisas para ir para um acampamento cristão para jovens, meu pai entrou no quarto e perguntou:

— Onde você pensa que vai?

— Quero ser missionária e ajudar os outros. É só por três meses, papai.

Ao nos ouvir, minha mãe entrou na conversa, defendendo a postura do meu pai.

— Três meses? —ele gritou. Você não percebe que isso é tempo mais do que suficiente para descobrirem que a minha filha está se relacionando com estrangeiros cristãos? Vou ser expulso do partido comunista e corro o risco de ser considerado espião! Vamos ficar sem emprego e sem dinheiro e a culpa vai ser sua!

Era 1991 e a União Soviética havia recentemente se desfeito, o que procurei usar como argumento para convencer meu pai que a situação ia mudar. Ele não quis me ouvir, e, apesar de ter me dado um sermão de quatro horas, não conseguiu abalar minhas convicções. Eu sabia no meu coração que Deus me chamara para ser Sua serva, e estava decidida a me dedicar a qualquer custo.

Quando minha mãe viu que não estavam chegando a lugar nenhum com seus argumentos, achou melhor ir comigo e ver por ela mesma com que tipo de gente eu estava me envolvendo. Na primeira reunião da qual participou, ela também aceitou Jesus!

Aquela noite foi marcada por outra discussão acalorada com meu pai, mas dessa vez, para surpresa dele, minha mãe ficou do meu lado. Ele então acabou concordando em me deixar “experimentar Deus”, desde que Ele lhe desse um sinal.

Naquela mesma noite, seu relógio simples e antigo se auto-ajustou para o horário de verão. De manhã, ao ver que o seu relógio era o único na casa que mostrava o horário novo, ele se lembrou que havia pedido um sinal a Deus e ficou muito feliz pela maneira como foi atendido. Meu pai aceitou Jesus aquele dia e, desde então, orgulha-se muito de ser cristão e diz às pessoas: “Os comunistas apenas prometiam um futuro brilhante, mas Deus tem, de fato, os meios para proporcioná-lo e atender ànossas orações”.

Eu me tornei missionária e, nos últimos doze anos, vi muitos outros sinais e milagres comprovando a existência de Deus. E, o que é melhor, descobri o elo que faltava à minha vida —o que conectava o meu coração ao de Deus.

(Joanna é voluntária em tempo integral do grupo A Família).