Quando comecei a estudar piano, ainda criança, já sabia que queria ser músico.
Aos 15 anos, passei para a música pop e jazz. Também comecei a compor —especialmente para uma garota por quem tinha me apaixonado perdidamente. A tragédia foi a falta de reciprocidade. Mas assim é a vida de um torturado jovem músico. Deixa pra lá...
Comecei a estudar jazz e a aprender a improvisar. Mas a maior parte do que aprendi foi sozinho, escutando discos, ensaiando e lendo. Quando eu tinha 17 anos, Don Burrows, um dos principais nomes do jazz na Austrália fez um concerto na minha escola. Eu e uns amigos tínhamos montado uma banda e tocamos umas músicas para ele depois do show. Ele pediu a um dos meus amigos para não me dizer, mas que ele me considerava um dos melhores adolescentes pianistas de jazz que ele já ouvira. Acho que ele não queria que eu ficasse convencido. Mas o meu amigo me contou assim mesmo e não deu outra: fiquei convencido!
Não demorou, cansei do jazz e, depois de terminar o Ensino Médio, fiquei um ano sem estudar para me dedicar ao piano clássico, na esperança de ser aceito na mais conceituada escola de música do país, o Sydney Conservatorium of Music, pois, na época, queria ser compositor.
Estudava muito por conta própria, compunha e, depois de um tempo, para minha alegria, fui aceito no “Con” —como informalmente chamávamos o conservatório. Infelizmente, a experiência foi uma decepção terrível. No meu ponto de vista, apenas uns cinco por cento de tudo que eles ensinavam era útil —coisas práticas como aulas de piano e aprender a escrever partituras. O resto, a bem da verdade, não servia para nada. Aprendi mais estudando por conta própria e ensaiando.
Compositores de visita nos davam palestras longas e sem sentido sobre teorias abstratas de composição que tinham pouco ou nada a ver com música de verdade. E tinham coisas que eram simplesmente nocivas, tais como as aulas de “Civilização”, onde os dogmas ateus e humanistas eram ensinados como fatos.
Então aconteceram algumas coisas que pareciam insignificantes, mas foram marcantes na minha vida. Fui a um concerto assistir à Paixão segundo São Mateus, de Bach, sobre a história da Crucificação, conforme a narrativa do Evangelho. Fiquei profundamente emocionado, não apenas pela música, mas pelas palavras. Saí dali repetindo para mim mesmo “Eu acredito nessas palavras”.
Pouco tempo depois disso, perguntei ao meu professor de composição por que na época de Bach a música era tão bela e harmoniosa, mas hoje em dia a música clássica havia se tornado feia e dissonante, referindo-me especificamente à música de vanguarda promovida no Con.
Ele me olhou com tristeza e disse: “Bem, acho que naquela época eles tinham Deus e nós não O temos mais.”
Essas palavras ficaram ecoando na minha cabeça por muito tempo e comecei a me perguntar por que não tínhamos Deus. Por que não podíamos ter Deus?
Depois de um ano e meio de estudos, eu não aguentava mais. Tínhamos de compor e eu passava horas fazendo tudo que podia imaginar para ficar inspirado —sentava na praia olhando para o mar, ficava noites deitado no meio do campo contemplando as estrelas, passava dias a fio em jejum e meditação.
Nada funcionou. Eu estava totalmente sem inspiração, sem saber o que fazer nem a quem recorrer. Era mais fácil quando eu tinha 15 anos e escrevia canções pop para aquela garota de quem eu gostava! Mesmo quando me forcei a produzir algo, fiquei assombrado e desanimado quando ouvi o que a orquestra tocou sob minha regência: era o reflexo insípido e sombrio do mundo triste e sem propósito no qual eu vivia.
Olhei para alguns professores e compositores de meia-idade deprimidos e vazios que alcançaram o sucesso em suas carreiras, mas não encontraram as respostas para suas vidas e pensei: Eu é que não quero acabar assim! Senti que a abordagem humanista que o Con promovia não estava me levando a lugar nenhum. Na verdade, estava me sugando a vida.
Foi quando recebi uma carta de um velho amigo. Ele tinha aceitado Jesus no coração recentemente e estava participando de um grupo cristão, que depois fiquei sabendo que se tratava da Família Internacional. No dia em que fiquei sabendo de sua nova vida, deixei o conservatório para nunca mais voltar. Também recebi Jesus e, três semanas mais tarde, ingressei na Família. Foi o fim dos meus anos de depressão e introspecção solitária!
Foi uma mudança e tanto. Um dia eu estava regendo uma orquestra e analisando a estrutura harmônica das sinfonias de Beethoven e no seguinte estava nas ruas, dividindo com estranhos a alegria que encontrara em Jesus. Não era o que eu havia planejado para mim e, às vezes, era humilhante, mas eu havia encontrado o que buscava!
Alguns meses mais tarde, o Senhor me disse que usaria todos os dons musicais que me dera se eu permanecesse leal a Ele. E Ele cumpriu Sua palavra, apesar dos meus altos e baixos. Demorei anos para aprender que meu talento era um dom que Ele me havia dado e que meu conhecimento musical nada era sem o Seu Espírito e Sua inspiração. Felizmente, por fim, entendi.
Uma vez, depois de mexer e remexer em uma pilha de canções que eu havia escrito, pedi ao Senhor para me inspirar de tal forma que eu produzisse apenas a Sua música. Repeti essa oração umas mil vezes desde então e é por isso que posso verdadeiramente dizer que Ele merece o crédito por qualquer coisa boa que Ele realize por meu intermédio. Não foi resultado da minha formação acadêmica —principalmente da parte que O excluía do processo.
No dia que decidi seguir Jesus, Ele me disse que nunca me arrependeria. Já são 22 anos de amor, sucesso, reveses, canções e serviço e posso dizer com toda sinceridade que nunca me arrependi. Não apenas porque minha vida tem sido feliz e plena, mas minha criatividade e percepção musical melhoraram muitas vezes desde que aprendi a me conectar à fonte.
Michael Dooley é voluntário em tempo integral e produtor musical da Família Internacional no Oriente Médio.)