Todo dia eu desejava que fosse o último. Eu tinha apenas 20 anos, estava casada havia um ano e acabara de dar à luz o meu primeiro filho. Meus médicos disseram que eu estava sofrendo de depressão pós-parto e que passaria, mas piorou. Eu não queria cuidar do meu bebê. Só pensava em morte, sangue e dor. Eu tinha medo da luz do Sol, da noite e até da chuva. Estava agressiva, crítica e emocionalmente instável. Meu relacionamento com os outros se desgastou e me isolei de qualquer forma de amor.
Na verdade, tudo começou anos antes, quando eu era uma menina tímida e assustada, e me preocupava achando que as pessoas não fossem gostar de mim. Mas, mesmo depois, quando eu tinha tudo que a maioria das jovens deseja —um marido carinhoso, um lindo bebê, uma casa, um carro e uma vida confortável— sentia-me totalmente infeliz. Os hábitos e modos de pensar que formamos nas primeiras fases da vida podem nos levar a situações muito perigosas.
Pouco a pouco, as coisas começaram a melhorar, pelo menos aparentemente. Três anos depois, nasceu nosso segundo filho. Dessa vez foi mais fácil e, nos cinco anos subseqüentes, uma coisa eu tinha muito clara: meus filhos eram uma luz nas minhas trevas.
Depois os sintomas da minha depressão se intensificaram e comecei a apresentar sinais de esquizofrenia, tais como temor, claustrofobia, tinha visões do Inferno e ouvia vozes malignas falando à minha mente. Meu estado me trazia tal sentimento de culpa que me tornei presa fácil para pensamentos negativos. Na época, eu achava que quanto mais negativos fossem os pensamentos, melhores seriam. Eu era como uma esponja, esperando para absorver as trevas. Sofri perda de peso extrema e estava constantemente em um estado mental perigoso. Não havia mais como esconder: eu tinha de fazer algo a respeito da minha situação.
Busquei a ajuda de psicólogos e psiquiatras que prescreveram medicamentos bem fortes, mas quanto mais eu procurava orientação médica, mais eu piorava. Tentei também grupos de auto-ajuda, hipnose e tudo que o dinheiro pode comprar. Nada me trouxe paz.
Deus abençoe meu marido que permaneceu ao meu lado durante tudo isso e nunca deixou de me amar. Todos os nossos parentes lhe disseram para me internar numa clínica psiquiátrica, mas ele se recusou. Em vez disso, orava todos os dias para eu sarar, pois sabia que se eu fosse internada, não sairia mais.
Além de sustentar o lar, tinha de cuidar de nossos dois filhos pequenos e me ajudava a manter a casa relativamente limpa. Devido ao meu estado mental e emocional eu não podia dirigir, então não podia fazer compras, e ele tinha que fazer isso também. Sempre que tentava cozinhar eu queimava tudo. É de admirar que eu não tenha ateado fogo à casa!
Além disso, eu sofria também com os efeitos de todos os medicamentos que tomava: tontura, secura na boca, náuseas, enxaqueca, espasmos musculares e cólicas intestinais. Vez ou outra chegava a perder a coordenação motora. Eu andava pela casa me apoiando nas paredes e ficava sentada na frente de uma pilha de roupas sujas ou da pia cheia de louça, incapaz de mover um dedo.
Só Jesus podia me salvar —e salvou! Conheci alguns membros da Família que na verdade eram nossos vizinhos, mas eu nunca tinha reparado neles. O semblante deles era brilhante e positivo demais. Era uma luz mais intensa do que eu podia suportar. Eles me incomodavam, mas, ao mesmo tempo, me fascinavam. Agora vejo que eu me mantinha afastada por medo de ser notada e amada.
Então, um dia, um casal da Família conheceu meu marido em seu escritório. “O que vocês estão me falando é bom —disse ele— mas quem realmente precisa ouvir isso é a minha esposa”. E os levou para nossa casa.
Duvidei que estivessem ali para me ajudar mesmo, ou que sequer pudessem me ajudar, mas o meu estado era tão ruim que era pegar ou largar. Decidi pegar, graças a Deus! Aceitei Jesus porque Ele me aceitou primeiro (1 João 4:19). Foi o ponto de virada, mas meus problemas não desapareceram de uma hora para a outra. Eu era como um bebê à morte que precisava de tratamento para, pouco a pouco, recobrar a saúde. Foi o que meus amigos da Família fizeram por mim.
Dia após dia me incentivaram a ler a Bíblia e outros textos que edificavam a fé, como esta revista que você está lendo. No início foi humilhante, mas aprendi a pedir oração quando enfrentava problemas.
Fiquei muito amiga de uma das mulheres do grupo. Ela foi paciente e amorosa, mas não fazia rodeios quando precisava me alertar sobre algo. Líamos a Palavra juntas ou conversávamos ao telefone todos os dias. Eu lhe contei tudo que há anos me incomodava. E, com o tempo, encontrei aquilo que sempre busquei, mesmo sem saber do que se tratava. Jesus pôs uma nova canção no meu coração e nos meus lábios.
Claro que a batalha espiritual era forte, e às vezes ainda é, porque o Diabo ficou furioso por me perder. Ele continuou me atormentando com pesadelos, imagens mentais feias e pensamentos sórdidos. Certa noite, fiquei tão confusa e desesperada que me ajoelhei e orei: “Jesus, preciso saber a verdade! Não suporto mais esses ataques. Se Você não for a solução para meus problemas, se não for me livrar destas trevas, prefiro que a minha vida termine. Transforme-me ou leve-me!”
Então, abri a Bíblia e meus olhos caíram no Salmo 116. Aquelas palavras pareciam sair direto do meu coração! A partir daquele momento deixei de acreditar nas mentiras do Diabo! Passei a contar que o Senhor cumpriria as promessas na Sua Palavra. Eu ligava para a Família todos os dias para perguntar onde encontrar certos versículos para lutar contra o Diabo com a Palavra e funcionou! Durante anos, eu me submeti às mentiras dele, mas a Palavra o desmascarou e confundiu.
O Diabo nunca me deu soluções, é claro, apenas me culpava e me largava no poço da depressão. Mas quando passei a clamar as promessas da Bíblia diariamente e pedir que o Senhor me concedesse graça e forças para o que eu precisava fazer, as coisas ficaram mais fáceis e o Diabo passou a ter cada vez menos do que me acusar. Cada vez que ele me tentava com um pensamento deprimente, eu citava versículos que provavam que ele estava mentindo, como Jesus fez quando o Diabo O tentou.
Demorou quase dois anos para eu sair daquele buraco da depressão, mas com a ajuda de Jesus agora sou uma pessoa diferente! Não existe um único princípio na Palavra de Deus que não funcione nem alguma promessa que Ele não possa cumprir.
Não consigo expressar quanto eu amo Jesus! Só penso nEle e como Ele é maravilhoso e poderoso! O Senhor respondeu às orações fervorosas de meu marido, como sempre faz com todas nossas preces.
(Giovana é agora uma integrante ativa do trabalho da Família em Blumenau, Santa Catarina.)
Salmo 116:1-9
- 1. Amo ao Senhor, pois Ele ouviu a minha voz; ouviu o meu clamor por misericórdia.
- 2. Porque inclinou para mim os Seus ouvidos, invocá-lO-ei enquanto viver.
- 3. Os cordéis da morte me cercaram, as angústias do inferno se apoderaram de mim; sofri tribulação e tristeza.
- 4. Então invoquei o Nome do Senhor, dizendo: Ó Senhor, livra a minha alma.
- 5. Piedoso e justo é o Senhor; o nosso Deus é cheio de compaixão.
- 6. O Senhor protege os simples; quando eu estava abatido, Ele me livrou.
- 7. Volta, ó minha alma, ao teu repouso, pois o Senhor te fez bem.
- 8. Pois Tu, ó Senhor, livraste a minha alma da morte, os meus olhos das lágrimas, e os meus pés da queda,
- 9. para que eu ande perante a face do Senhor, na terra dos viventes.